segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Contra o quê protestam os Brasileiros?

Contra o quê protestam os Brasileiros?

Que dúvida...




                               Compreensível que haja ainda quem ouse levantar esta questão, estando os motivos tão óbvios. Trata-se de estratégia – mais uma – de propaganda e marketing voltada a dividir, confundir e diluir o movimento.
                          Assim como acontece na Europa, nos EUA e em várias outras Nações da América Latina, os protestos estão voltados CONTRA A GLOBALIZAÇÃO. Pontualmente, cada grupo de pessoas que consegue se levantar – apesar e contra os partidos, sindicatos e políticos profissionais – apresenta modestas pautas de reivindicações que vão de uma redução em R$ 0,20 no preço das passagens de ônibus em São Paulo, capital, passam pela exigência da extinção da cobrança de pedágio entre duas pequenas cidades contíguas no Espírito Santo e chegam a coisas menos concretas, porém mais relevantes como “o fim da corrupção”.
Contra os impostos mais extorsivos da História do Brasil
            Desde os tempos coloniais, os donos do poder taxam os brasileiros sem haver retorno social algum dos impostos cobrados. Houve alguns curtos períodos de exceção, como durante o governo Vargas que, apesar de todos os seus defeitos foi um dos últimos brasileiros a merecer o título de PATRIOTA; seu ato final, atrasar a imposição da Ditadura Militar no Brasil por 10 anos com um tiro no peito é prova cabal de sua verve em defesa do povo brasileiro. Odiado pelos estadunidenses que precisaram amargar 10 anos até que novas condições propiciassem a implantação de mais uma ditadura militar num país periférico como as plantadas em todos os da América Latina, era chamado de “populista”. Pessoalmente o considero POPULAR.
 

              Eram outros tempos, a Via Láctea como um todo estava num ponto distante do Cosmo e o Planeta Terra, em torno do Sol, se situava fisicamente bem longe de onde hoje se encontra. Mais distante, contudo é a ideologia da classe dominante.
            Se naqueles tempos se conseguia administrar o país em sua forma republicana com impostos em torno de 7% de tudo o que se consumia, com um ministério tão enxuto que era possível – e cobrado em provas de “Educação Moral e Cívica” – sabermos os nomes dos pouquíssimos Ministros de Estado e suas pastas, hoje, pagamos mais de 60% de tudo o que produzimos com o nosso trabalho em impostos que não revertem em nosso benefício, com o escárnio suplementar da comemoração anual – por parte dos cobradores dos impostos mais altos de toda a História do Brasil – do 21 de Abril, data marcante de um levante contra o excesso de impostos brasileiros para a colônia e que chegavam a 20% (o chamado “Quinto dos Infernos”); em 2013 pagamos TRÊS QUINTOS DOS INFERNOS em impostos e os governantes têm a desfaçatez de celebrar o 21 de Abril como Data Cívica. Curiosamente, embora este seja um dos cernes de todos os problemas por que estamos passando, não há registro de maiores protestos nas celebrações anuais do 21 de Abril...
 
 
Protesto contra a falta de educação

            Ainda me lembro de como, em minha infância, era comum brincarmos na calçada ou na pracinha perto de casa (sempre caiada, bonita, jardins bem cuidados e brinquedos diversos à disposição da criançada) sem medo algum, fosse de balas perdidas ou dos crimes mais hediondos que o Brasil contemporâneo amarga. Ia sozinho a pé para a escola – que ficava próxima de casa, possibilitando à Senhora minha Mãe monitorar cada passo até a entrada no estabelecimento de ensino público; sim, pois o ensino privado era castigo para quem não gostava de estudar naquele tempo. Lembro-me de ver o pai de um coleguinha a ameaçá-lo severamente: ou você leva seus estudos a sério ou serei obrigado a te matricular numa escola PPP (Papai Pagou, Passou). Atualmente as escolas PPP se chamam “Instituições de Ensino Privado” e mantém o mesmo nível medíocre de ensino, vitaminadas que são pela queda no padrão do Ensino Público excelente que tínhamos há 2 ou 3 décadas.
            Seguramente um dos motivos que levam as pessoas às ruas em protesto é a queda brutal e brutalizante no padrão de ensino (público, mas também privado) em nosso país, com professores mal remunerados e despreparados, classes abarrotadas e ausência total de material de apoio ao ensino (exceções, vale lembrar, servem para confirmar a regra, não o contrário, como a mídia brasileira gosta de apresentar) resultando em gerações seguidas de estudantes dos vários níveis que chegam a se formar sem conhecer o assunto estudado. Muito comum que um aluno chegue a uma faculdade privada sem saber ler ou escrever – compreende as palavras, letra por letra, mas não entende nem consegue interpretar o que está escrito. Termina-se o ensino médio (quando o jovem já está com seus 17 ou 18 anos de idade) sem conhecer adequadamente sequer as quatro operações matemáticas e as modificações no idioma português impostas por força de lei obrigam os professores a aceitar qualquer forma como “válida” para fins de aprovação.
            Assim como não temos mais um conjunto de Leis a formalizar o pacto social brasileiro (a constituição promulgada em 1988 está, na prática, revogada, sepultada por um sem-número de Emendas Constitucionais, frequentemente contraditórias, permitindo aos juízes proferir suas sentenças usando, para seus propósitos, as Emendas mais apropriadas) tampouco se obedece ao padrão Erudito da Língua Portuguesa. Em redações para concursos, valem as abreviaturas e cacofonias usadas na Internet (vc, tb, fds, kkkkk...) e mesmo na linguagem coloquial vulgar “nós veio”, “nós foi”, “nós vai entrar para dentro depois sair para fora”, “fulano vai vim” e por aí vai. Haja...
            Sem Educação de Qualidade, como se constrói uma Nação? Os administradores atuais deste setor administrativo – como o de vários outros das esferas federal, estadual e municipal – merecem o repetido epíteto de “Exterminadores do Futuro”!

 Protesto contra a Imprensa Mentirosa
 
            Em várias ocasiões, desde junho passado, a cobertura jornalística se faz do alto, de helicópteros ou, na “melhor” das hipóteses, com jornalistas disfarçados, infiltrados entre os manifestantes e ocultando as logomarcas que identificam a empresa de propaganda midiática que representam.
            Os ataques a veículos da Globo, da Record, da Bandeirantes e outras deixam clara a insatisfação dos manifestantes que veem reportadas naqueles veículos de comunicação o contrário do que aconteceu de fato.
            Em qualquer greve, as empresas de propaganda midiática a soldo do Mercado de Capitais e de seus representantes em postos governamentais, enfatizam ad nauseam o desconforto causado pelas manifestações e se calam (ou mentem descaradamente) acerca dos MOTIVOS que levam tantas pessoas às ruas reivindicando alguns de seus direitos subtraídos.
            Os saques a supermercados e a crescente onda de suicídios entre os brasileiros desesperados sequer encontra espaço nas empresas de propaganda midiática...

Protesto contra o envio do nosso dinheiro aos banqueiros

            Cenas de bancos depredados são apresentadas como “atos de vandalismo”, mas a fundação de um Banco não é apresentada como “ato de banditismo explícito”. Com a saúde e a educação sucateadas pelos sucessivos desgovernos desde que o Brasil foi levado, pelo PSDB, a aderir à Imposição de Wall Street, aqui chamada de “consenso de Washington” ou “plano Real”, não raro os recursos de nossos impostos são “contingenciados” e, a seguir, remetidos a banqueiros portugueses, espanhóis, gregos e outros com as empresas de propaganda midiática a dourar a pílula e dizer sandices como “governo brasileiro envia tantos milhões para ajudar a Grécia”. Menos inverídico seria dizer o que de fato se faz: o envio de dinheiro para que banqueiros gregos paguem suas dívidas para com o Banco Central Europeu, sem que o povo grego veja sequer um centavo da tal “ajuda”.
            Os recursos amealhados através dos impostos extorsivos que pagamos são portentosos. Ao invés de aplicá-los na melhoria de serviços públicos de Saúde, Educação, Infraestrutura ou Geração de Empregos os comissários a serviço das corporações e dos bancos desviam o nosso dinheiro para os mais aquinhoados. É como se fôssemos pacientes terminais num Centro de Tratamento Intensivo de um Hospital qualquer a transfundir nosso sangue para que gente gorda, saudável e forte assim permaneça. O cúmulo da falta de patriotismo ou consideração para com os seres humanos que, trabalhando, geram a riqueza da Nação.

Protesto contra os Institutos de Pesquisa

            Dia desses li na Folha de S. Paulo, um jornal que já teve seus dias de credibilidade, uma frase mais ou menos assim: “o governo brasileiro destina cerca de R$ 30 milhões para o programa “Bolsa Família”, contudo, a situação próxima ao pleno emprego em que nos encontramos dificulta a implantação de programas “portas de saída” desta dependência governamental” – Vixe! Quanta mentira e contradição numa frase só! Passo a passo:
            Se a “Bolsa Família” está aí em torno de R$ 100,00, a Folha, na frase citada, reconhece a existência de 300.000 chefes de família desempregadosconditio sine qua non para receber o malefício (conhecido vulgarmente como “benefício”). A estes, podemos somar os cerca de 30 milhões de brasileiros possuidores de carteira de trabalho que recebem outro malefício conhecido como “benefício”, o “Seguro Desemprego”. Isso a qualquer tempo que se consulte a página do Ministério do Trabalho e Emprego – e quem “cantou a pedra” foi Carlos Lupi pouco antes de ser cassado por corrupção, dizendo algo como: “as pesquisas falam em menos de 2 ou 3% de desemprego, como é possível que estejamos pagando o Seguro Desemprego a quase 40% dos trabalhadores? Precisamos fazer um corte!” Em outras palavras, e como de hábito, tanto os comissários dos donos do poder quanto o “respeitável público”, quando em face de todas as evidências em contrário, acredita mais na propaganda que na realidade em que vive!
            Saudades da Folha no tempo em que o PT parecia merecer o título de Partido DOS TRABALHADORES e havia revisores a perceber PELO MENOS que não é possível falar em “Bolsa Família” e “Pleno Emprego” na mesma frase...

Protestos contra a ausência de representatividade

            Depois que os protestos começaram – parece que o Brasileiro está acordando... Devagar ainda, timidamente, incerto e inseguro quanto a “o quê pleitear”, mas acordando... – o governo federal, ou seja, os comissários dos donos do poder convocaram as centrais sindicais para fazer “um dia de protesto” – remunerado com o nosso dinheiro ao valor de R$ 70,00 por cabeça – com reivindicações serôdias, algumas incompreensíveis à maioria como “Fim do Fator Previdenciário” (pouquíssima gente sabe o que é isso e menos ainda de que maneira isso poderia beneficiar, de alguma forma, os aposentados num quadro em que os comissários dos donos do poder podem tomar medidas que anulem os efeitos de um eventual fim do fator previdenciário...); “Reforma Política” – assim não dá... Reforma Política feita por ESSES políticos que estão no poder? O Brasil já passou muito do momento em que algum tipo de “reforma” poderia servir pelo menos como paliativo para alguma coisa. Precisamos mesmo, sejamos francos, de uma RUPTURA INSTITUCIONAL.
            Os comissários dos bancos, das corporações e dos jogadores da bolsa encastelados no Executivo, Legislativo e Judiciário já demonstraram cabalmente a que vieram. O Brasil precisa de representantes do povo no poder. Fora com esse comissariado espúrio.
            Há muito escrevo e dou palestras sobre a inocuidade do sistema eleitoral brasileiro: as urnas eletrônicas são totalmente inadequadas, nada confiáveis (aos que são convocados ao Serviço Eleitoral Obrigatório; são confiáveis a quem as programa, evidentemente...).
            Para que tenhamos alguma representatividade seria necessário, para começar, demitir todos os políticos e juízes que estão no exercício do poder. O tecido social brasileiro está por demais esgarçado, como analiso aqui http://www.culturabrasil.pro.br/noticiasdotartaro20052013.htm
             Cúmulo do escárnio: para culminar as desgraças que se abatem sobre os brasileiros, o cidadão encarregado de encaminhar o processo eleitoral de 2014 será o Sr. José Antonio Dias Toffoli, um camarada que jamais conseguiu ser aprovado em concurso público para ser juiz e ganhou uma cadeira no STF como prêmio por serviços prestados ao PT e ao Lula, contra a União, quando foi - PASME! - Advogado Geral da União, contando em sua folha corrida ainda o desvio de R$ 700 milhões do governo do Acre – que não desmente, mas afirma: já caiu em exercício findo, o processo foi arquivado por decurso de prazo – ESTE cidadão já é Ministro do Tribunal Superior Eleitoral e sobre ele não paira a menor suspeita de honradez ou honestidade. Vamos mal...
            Uma curiosidade, contudo: os donos do poder, em sua ganância e avidez por lucro fácil já decidiram que o grupo atualmente no governo (PT e seus asseclas) deve ser substituído. Pelo andar da carruagem, “os mercados” deverão apontar o Partido Verde e seus asseclas para substituir a atual quadrilha.
            Não. Não há o que possamos fazer pacificamente. Seremos convocados a nos apresentar nas ZONAS eleitorais no dia marcado para nossa prestação do Serviço Eleitoral Obrigatório, mas nada do que digitemos ou venhamos a dizer fará a menor diferença. Como de costume, por volta de 3 horas da manhã do dia das eleições a Folha de S. Paulo anunciará o resultado 5 horas antes do início da votação e, ao longo do dia, todo o processo será transformado, como de hábito, num espetáculo circense em que os palhaços somos nós que nada decidimos em urnas pré-programadas.
            Como o que “os mercados” exigem do próximo grupo político encarregado de gerir seus interesses no governo gira em torno de “flexibilização da legislação trabalhista” e “maior abertura ao capital estrangeiro” a única certeza que se pode ter é que assistiremos, viveremos e vivenciaremos o mesmo filme de terror em cartaz desde que FHC implantou por aqui a Imposição de Wall Street (“consenso de Washington” ou “Plano Real”) a única modificação – SALVO UM DESPERTAR MAIS VIGOROSO DOS BRASILEIROS – será a dos personagens do drama de terror que continuará e se aprofundará.
            A propósito, considerando-se os debates entre os “economistas” e intelectuais venais nos meios de comunicação a próxima quadrilha será a do Partido Verde (podendo, eventualmente, voltar os tucanos se estes concordarem com a agenda preparada pelos donos do poder, claro).
            E o povo? E nós? Se seguirmos no marasmo e sem um NORTE para as manifestações ciclotímicas e não unificadas, teremos nossas vidas pioradas por um bom pedaço com as empresas de propaganda midiática a enfatizar o contrário; que, apesar de nossa nítida impressão de estarmos há mais de 20 anos vivendo cada vez pior, “melhoramos”...

ACORDA, BRASIL!

Lázaro Curvêlo Chaves - 5 de agosto de 2013

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