A Ditadura Descarada do Mercado de Capitais
O Brasil, a Cebola e o Desemprego (o verdadeiro, não o da Propaganda)
Existe um jornal humorístico estadunidense chamado “Onion”
– cebola, em inglês – que recentemente estampou a seguinte notícia:
“Cresce o número de obesos nos EUA. Governo estima em 30%
a taxa de obesidades e ataca o problema baixando Decreto Lei (ou o
equivalente por lá) determinando que só seja chamado de “obeso” quem
pesar mais de 300 Kg. Imediatamente a taxa de obesidade nos EUA baixou
para menos de 1%!”
No Brasil isso é feito A SÉRIO com as Taxas ou Índices de Desemprego. O
Ministério do Trabalho e Emprego, mês a mês, paga o paliativo e
insultuoso (e
temporário...) Seguro Desemprego a cerca de 8.000.000 (oito
milhões, em média, entre janeiro e dezembro) de seres humanos portadores
de carteira de trabalho, ou seja, 40%. QUARENTA POR CENTO DOS
TRABALHADORES BRASILEIROS ESTÃO DESEMPREGADOS. O governo ataca o
problema com propaganda
através dos bem remunerados Institutos de Pesquisa (Datafolha,
Ibope, IBGE, FGV...). Depois de várias mudanças de metodologia, agora o
desemprego passou a ser mensurado com o uso de um termômetro medicinal.
Quem consegue manter uma temperatura corporal entre 36º e 37º é
considerado
“empregado”. Assim, a febre do desemprego no Brasil, medida por
estes arúspices (*), gira em torno de 1 a 3% no máximo. Coisa de “Onion”!
Já
assistiu as propagandas governamentais? Que beleza de país, com tudo
funcionando bem, todo mundo honesto, pleno emprego,
salários altos, consumo de bens crescente, nada faltando, saúde
pública "modelo para o Primeiro Mundo", educação pública
extraordinária... Você não fica com vontade de se mudar para lá?
Eu fico... Aqui no Brasil real, onde vivo, todas as coisas estão funcionando (?) ao contrário
da Propaganda :(
Os Médicos cubanos
Se
o programa “Mais Médicos” fosse algo voltado – de fato – a resolver a
crescentemente grave crise no Sistema Público de Saúde brasileiro, o
resultado, todos já perceberam, é menos significativo que uma minúscula
gotinha d’água no oceano.
Estima-se que o Brasil precisa, hoje, de cerca de meio milhão de novos médicos (bem remunerados e competentes, ça va sans dire)
a fim de nos aproximarmos minimamente da situação de saúde pública
vigente nas décadas de 30 e 40 do
século passado em nosso país. Quanto voltamos no tempo em termos
humanos para que pudessem os mais ricos viver ainda mais
confortavelmente...
O decréscimo – tanto qualitativo e quantitativo quanto mesmo do ponto
de vista da valorização profissional – nos sistemas de saúde e educação
públicas é gritante. Exemplos?
Na década de 30 não raro Juízes de Direito (concursados e togados)
prestavam novo concurso para a – então – melhor remunerada carreira no
Magistério Público. Meio brincando, meio a sério, diz-se que, na década
de 30 do século passado se um
médico desejasse se casar com uma menina e ela o rejeitasse, a mãe a
mataria; hoje, se uma menina deseja se casar com um médico a mãe ameaça
matá-la. Profissionais tratados com respeito e seriedade há menos de um
século, hoje estão reduzidos à proximidade da mendicância: um médico do
SUS recebe menos de USD 2 (dois dólares – uns R$ 5,00) por
consulta, enquanto um professor recebe, por aula, valor inferior ao de
uma banana nanica.
Nas décadas de 30, 40 e até a de 50, Professores e Médicos da Rede
Pública tinham sua profissão – Orgulhosamente! – como “Sacerdócio”:
usavam paletós e jalecos, viviam atualizados nos temas
internacionalmente de ponta em suas áreas, recebiam o
respeito do governo e, com ele, enorme respeitabilidade social. O
avanço do capitalismo sobre estas duas profissões tornou até a palavra
“sacerdócio” anátema (do grego “a” = “não”; “tema” = “algo de que se pode ou deve falar”; anátema
= tema proibido) para uso de Profissionais. Não recebem mais o
tratamento respeitoso que se devotava outrora aos Sacerdotes, mas o
tratamento comercial da
carne humana no mercado de trabalho dentro de qualquer Profissão.
Usualmente, quando um médico ou professor hoje, age dentro do respeito
às normas do mercado de carne humana embora agrida sua atividade
primordial, faz questão de afirmar: “eu sou um Profissional!” – e todos
se calam
confusos e desapontados.
No mundo globalizado deste século XXI –
nome novo do velho demônio capetalista
– pululam os Planos de Saúde Privados e as Instituições
Privadas de Ensino. Retrato quiçá do inconsciente, a expressão
“privada” se adequa perfeitamente ao nível a que chegou o tratamento da
saúde e da educação do povo brasileiro; ao nível mesmo da latrina... L Motivo de Protestos Crescentes no Brasil, o Conselho Federal de
Medicina e os Conselhos Estaduais de Medicina alertam para os baixíssimos salários dos profissionais da rede
pública de saúde.
O governo brasileiro premiou certo número de petistas e filo-petistas
com cursos de medicina em Cuba. Agora precisa dar-lhes emprego. Só isso.
É uma boutade(***): muita propaganda em torno de coisa alguma, muito barulho para nada!
Já SE FOSSE para resolver o problema – que se agrava momento a momento
cada vez mais – de Saúde Pública no Brasil seria preciso:
1
– Melhorar a qualidade do Ensino da Medicina nas Universidades Públicas
e PROIBIR as privadas de lidar com algo tão sério quanto vidas humanas
em seus momentos mais fragilizados.
2
– Ampliar substancialmente a formação de médicos nas Universidades
Públicas. Algo como 200 mil médicos por ano até atingirmos menos
de um médico para cada 20 brasileiros. E BEM REMUNERADOS!
3
– Tornar a profissão da medicina mais atraente através de salários
dignos, planos de carreira, promoção de atualizações frequentes no
Brasil e no exterior.
4
– Finalmente, quando houver um número relevante de médicos bem formados
em Universidades Públicas e fabulosamente remunerados no Brasil, fazer a
única coisa que este governo faz bem: PROPAGANDA. Enaltecer o médico
que
trabalha no Sistema Público de Saúde – PROIBIR os Planos de Saúde
Privada – mostrando a vida do médico no cotidiano, agora melhorada, com
salários gordíssimos que até os juízes do supremo passam a invejar o
médico do SUS; em novelas o que as donzelas (e as mães, por definição,
preocupadas com o bem estar salarial do candidato a marido de suas
filhas) mais desejam é “casar-se com médico”. O mesmo valerá para o
Professor, desde que se tomem as medidas necessárias neste sentido
também, claro. Mais detalhes aqui:
http://www.culturabrasil.pro.br/educacao.htm
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Descarados!
Banalização do Mal
Já
conversou com um(a) desses(as) operadores(as) de telemarketing que
trabalham para um desses bancos ou corporações, como de telefonia
celular, SAC de alguma empresa ou coisa assim?
Em primeiro lugar fica patente o despreparo linguístico da pessoa do
outro lado. Não é ela culpada. É mal educada mesmo. No sentido amplo,
não estrito, do termo, naturalmente: como vem de uma geração em que
as mães precisaram sair de casa para trabalhar e complementar a
renda familiar face ao salário decrescente e carga de trabalho crescente
do marido, não aprendeu as coisas que se aprendia com a mãe nos bons
tempos: “fala obrigado pro moço”; “quando pedir algo, não se esqueça de
dizer
por favor”, “quando estiver em grupo, como numa sala de aulas, seja
cordial com todos”, “devolve o lápis do coleguinha”, coisas assim. Além
disso, com o desabamento intelectual, educacional, cultural e moral dos
brasileiros que se segue ao ingresso na
Globalização Estadunidense,
agride o vernáculo e nossos ouvidos com gerundismos “vou estar fazendo –
ou providenciando – tal
coisa”; americanismo, em Português não existe o tempo verbal Future
Continuous e se faz ou não, se providencia ou não. Jamais se diz “vou
estar providenciando...” até dói no ouvido! E coisas ainda piores:
“Fulano vai vim”. Peraí, o Fulano VAI ou VEM. Se o que se deseja
expressar é
“virá”, por quê não fazê-lo? Tentativa de parecer erudito(a) e cair
no ridículo por causa disso? Ou... “Está somente cumprindo ordens”?
Esta era a tentativa de defesa preferida por 10 entre 10 criminosos de
guerra nazistas no julgamento de Nuremberg: “Só estava cumprindo ordens,
tentando manter meu emprego”. Ali ficou patente que jogar fora a
própria consciência para “cumprir
ordens” imorais num emprego, digamos de “exterminar indesejáveis ao
governo nazista” não se justifica nem tem perdão! A filósofa Hannah
Arendt chama a isso de “banalização ou banalidade do mal” em sua Obra
Clássica “a condição humana”.
Nas Grandes Corporações citadas funciona mais ou menos assim também.
Quem te atende não é a pessoa que vendeu o produto tampouco te
conhece: “encaminha ao departamento encarregado”. E você chega a outra
pessoa, como a maioria dos brasileiros nesta era maldita lulo-petista,
mal educada também. E por fora! Você tem que contar a história toda
novamente,
desde o início. Aí a pessoa, se tiver boa vontade, descobre
finalmente qual é o setor ou departamento ao qual você precisa se
dirigir para ter o seu problema resolvido (curioso: eles criam um
problema para nós e o problema passa a ser “nosso” e um deles, a se
descobrir quem, “fica
feliz em ajudar a solucionar”). Novo contato, outro mal educado,
contas a história toda do começo novamente... Olha, a maioria dos
brasileiros desta era neoglobalizada lulo-petralha é composta por
mal-educados por definição e, em geral, desiste ali pela quarta ou
quinta transferência
de ligação ou atendente. Conto nos dedos os PINHÉS(**) como eu, que
insistem até o final e aproveitam os momentos de silêncio para EDUCAR o
telemarqueteiro quanto ao que sejam as “Corporações” e, eventualmente,
noções rudimentares de gramática da língua portuguesa (não “esteja
providenciando”, PROVIDENCIE! Fulano não “vai vim”, caralho, VIRÁ! “Os Bancos e
Corporações, por definição são PSICOPATAS” – Joel Bakan),
enfim, se não der certo de todo e houver uma “agência reguladora” a quem
apelar (Mais um calvário, mas fazer o quê? É ir até o final ou nem
começar!) pega-se um “número de protocolo” – em geral, nos Bancos e
Corporações
cada atendente te dá um “número de protocolo” diferente e não
adianta nada referir-se a um anterior, senão eles precisam contar o
tempo desde o primeiro contato e estão orientados – “cumprem ordens” –
de postergar ao máximo qualquer reclamação.
Contratações de serviços, em geral são facílimas! Por vezes se contrata
uma besteira idiota qualquer simplesmente clicando distraído quando o
celular toca. E pra sair do enrosco é uma novela. De terror. Como dizia
minha vó, “Parece macumba!
Entrar é fácil, mas não sai nunca mais!”
Sério agora: NINGUÉM se responsabiliza. O CEO (Diretor-Presidente ou o
que o valha) do Banco ou Corporação tece as estratégias e dá as ordens.
Um ajudante de ordens delega competências distintas e a coisa toda vai
se diluindo. Quem aplica a pena
final, seja pagar caro por um péssimo serviço (Plano de Saúde
Privada, Telefonia Celular, Serviços Bancários, etc.), seja evadir-se de
qualquer possibilidade de te tirar da enroscada em que te enfiaram é um
menino de recados desinformado e, como a maioria dos brasileiros
contemporâneos, por definição, mal-educado.
Resumindo algo vulgarmente “A Corporação”
de Joel Bakan e Mark Achbar, a coisa funciona como um pinico
bem comprido e furado. O CEO caga lá em cima e a merda se espalha cá
embaixo onde os serviços são prestados ou os produtos são entregues.
Se pelo menos esses putos tivessem uma cara para a gente encher de
socos! Aí é que está o maquiavelismo do sistema corporativo privado
neste mundo globalizado: é uma ditadura descarada, sem cara, sem face...
Seria menos complicado se pudéssemos
personalizar a coisa, dar um nome ao Grande Inimigo. Afinal é
complicado demais ao povão metabolizar a compreensão do funcionamento do
Grande Mal a ser combatido: o sistema corporativo centralizado
mundialmente em Wall Street como nos diz Ignácio Ramonet em “Vozes Contra a Globalização”.
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Aos poucos o povo vai despertando, protestando ciclotimicamente,
a
início, contra este ou aquele aspecto desta Ditadura Descarada. E
não foi diferente na luta contra o Domínio Temporal Absoluto da Igreja
Católica Romana durante os Mil Anos de Trevas da Idade Média? Aquele
período de trevas acabou. Levou MIL ANOS para acabar.
E a atual Idade das Trevas do Sistema Corporativo de Wall Street, quanto tempo durará? Estaremos (ou nossos filhos, ou netos, ou bisnetos...)
vivos para ver e vivenciar sua derrocada inexorável pois insustentável? Oxalá!
Daqui faço o que posso, dentro de minhas limitações. Mas a luta é
grande, demorada e complicada. Jean-Paul Sartre dizia, em situações
assim, que somos “metade vítimas, metade cúmplices”. Claro! Se na Idade
Média, só a Igreja tinha dinheiro para
patrocinar os artistas, arquitetos, construtores, pensadores e
criadores, hoje em dia só os Bancos e as Corporações conseguem fazê-lo.
Assim, cada um de nós tem pelo menos um membro da família trabalhando
diretamente numa destas Corporações ou Bancos; por falta mesmo de
alternativa, a
quem mais apresentar sua carne à venda no mercado de carne humana,
chamado “mercado de trabalho” que não a esses psicopatas de hoje? Quanto
tempo ainda durarão estas trevas?
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